domingo, 9 de maio de 2010

Leoa e uma pedra Rubra

Ela era criança e quando tinha tempo, ela pegava sua boneca de pano e brincava de ser mãe, mas ao mesmo tempo achava que não teria filhos, porque não sabia se encontraria uma pessoa legal para ser pai de seus 12 filhos. Era isso que sonhava e desejava: ser mãe. Mesmo cuidando de dois irmãos, a diferença entre ela e os dois era mais ou menos de dez anos, ela gostava de crianças, mas essas não eram as suas crianças, e assim foi levando a vida, dava leite normal para eles, só para ter o prazer de comer leite ninho direto da lata, de colher. Imaginava uma vida totalmente diferente do que levava, imaginava como seria quando se casasse quanto tivesse seus filhos e só queria que o tempo passasse logo. Ficou mais velha, e em volta dela, sempre havia uma grande variação de pessoas com idades muito diferentes umas das outras, aprendeu das formas mais dolorosas que não se pode confiar em todos.

Mas certo dia, voltando para a casa que não a fazia se sentir pertencente daquele lugar, encontrou um cara que lhe pareceu o homem perfeito, estava ele concentrado em uma musica, na época, não haviam mp3 e i’pod, foi atrás dele como se o perdesse, perderia o grande amor de sua vida. Mas essa história não é para contar isso. Casaram-se, e após alguns meses uma mancha em formato de lua vermelha apareceu em seu rosto, sabia que seu desejo havia se ternado realidade. Sentiu logo no início que era uma menina, que carregaria em seu ventre. Pensou em vários nomes, mas em nenhum momento pensou em nomes masculinos, pois tinha a certeza absoluta de que seria uma garotinha peralta e ativa.

Emanuele, Marcela - por causa de um nome masculino de um filme religioso - Ruth, Raquel, Rafaela, Rubia, Rubiana, RUBIANE! É esse o nome! Foi o que pensou, foi o que sentiu e foi o que decidiu. As adversidades foram aparecendo, nem tudo estava sendo um mar de rosas, problemas na família, ela com irmãos problemáticos, encrenqueiros e endividados. Tudo o que a mais nova família não precisava. Passaram-se os meses, os pesados nove meses, uma melancia embaixo de um braço e a barriga gigantesca à sua frente, livros de chamada, letras de alfabetos gigantes para alfabetização na sacola. Mal sabia que em poucos instantes estaria ela com um bebê de 50 centímetros em seus braços, grande quando bebê, mas que ao ficar adulta não passaria de 1,62 de altura. Chegou a casa depois de mais um dia cheia de cansaço, foi tomar banho, banho quente – como sempre gostou – talvez a pequena não gostasse muito, era época de verão e já era quente onde estava, mas mesmo não gostando do excesso do calor, quis ficar mais uns dias no aconchegante pedaço de espaço que lhe foi concedido.

Ao invés do dia 29 do mês chuvoso que teoricamente deveria ser quente, quis o dia 31, o ultimo dia do mês, só para fechar com chave de ouro o primeiro mês do ano, dia 29 já era uma data importante para o avô da pequena que jamais chegou a conhecer fisicamente (uma fatalidade, pois os dois seriam unha e carne, sentia a pequena, que ele sempre estaria por perto, e que mesmo não estando juntos nessa vida, eles haviam brincado muito juntos em algum momento da longa linha de tempo).

Era um dia ensolarado, uma vontade incessante de fazer xixi, bateu na mãe de primeira viagem, a qual, foi delicadamente ao banheiro e começou a preparar um lindo café da manhã, comeu tudo que teve direito, pão com geléia, pão com requeijão e presunto, café e suco de uma fruta da época. Após esse café digno de rainha, começaram as dores, as dores que não tinha a mínima idéia de como eram. Era indescritível, pegou um táxi e rapidamente foi ao hospital, o médico japonesinho que acompanhou todo o pré-natal foi chamado às pressas e foi acompanhando a evolução da dilatação. Estava tudo pronto para o parto normal, mas por uma complicação não pode ser feito. Cesariana, a mesma maneira de como o imperador Julio César veio ao mundo, a cirurgia havia sido um completo sucesso. A mãe ainda meio zonza por causa da anestesia segurou em seus braços a exemplificação do mais puro amor, o amor entre mãe e filha.

Cabeluda, cabelos negros arrepiados e briguenta, queria o que queria e sabia o que queria, mas a para agradá-la era só brincar, só a fazer rir e dar atenção. Colocaram uma pulseirinha branca no braço das duas, não havia mais um cordão que as ligava, mas era algo maior que até hoje é difícil fazer com as duas expliquem. Elas não sabem, só sabem que é assim.

O tempo foi passando, o cabelo arrepiado tomou forma de Chanel, o cabelo loiro da mãe permaneceu o mesmo. A menina ficava na cadeirinha de mesa enquanto a mãe preparava o almoço de sábado - um dos poucos dias que podia ter livre para curtir a menininha engraçada com óculos de fundo de garrafa, que colocava para brincar – a mãe lhe servia bolachas água e sal, mas nunca entendia como a menina comia tão rapidamente a bolacha, flagrou-a ela dava todas as bolachas para o gato da vizinha, o qual adora a menina, afinal ela dava comida para ele. A cadeirinha teve que ser mudada de local, se não, teriam que adotar um gato.

Disse na escola que os pais bebiam, mas era tudo uma brincadeira entre os dois, que sua pequenina cabecinha em formação não conseguira entender. Disse que queria ser cadeirante, pois estava cansada após andar o dia inteiro acompanhando a mãe que necessitava pagar todas as contas e fazer as compras do mês, a mãe ficou irritada, indignada como a filha que havia visto uma pessoa usando uma cadeira de rodas queria também usar... Seria ela ingrata pela possibilidade de andar? Depois se deu conta de que a menina só estava morta de cansada.
Quebrou uma vez o braço, outra vez, e outra vez simultaneamente, criou a habilidade em jogar salgadinhos para cima e catá-los com a boca, coisa que não o faz mais hoje.

Foi criando uma independência, suas atitudes era firmes e decididas, a mãe analisava a filha, corrigia, da maneira como achava correta, o pai estava junto com a mãe.
Ela era espoleta, não parava quieta, não era muito obediente, mas sempre vinha com um sorriso que desarmava qualquer forma de briga. Apanhou pouco, a mãe e o pai ficaram por anos se perguntado se os erros que a filha cometeu não poderiam ter sido prevenidos com uma boa surra na infância, Içami Tiba não concordaria, ele diria que os pais devem educar como seus corações mandam. A mesma família que atrapalhou muitas vezes ajudou algumas. Nem sempre os dois podiam estar com a pequenina e assim ficava com a parte matriarcal da família. A casa de 49 metros quadrados abrigou muitas pessoas ao mesmo tempo, ninguém sabia ao certo como conseguiam todos morar lá. Assim foram levando a vida, uns dando opiniões demais, e a mãe sempre com o coração aflito, por causa da incerteza na criação da única filha. Continuou seus estudos e foi tentar cada vez mais uma vida melhor para dar mais condições da filha poder se desenvolver, São Paulo, Diadema, Palmas, cada lugar ela renova a esperança em conseguir algo melhor.

Com a força de uma leoa, animal que carrega no nome, ela superou as adversidades, a falta de saúde, a desgastante forma em que estava querendo levar a vida e a saudade da filha, do marido e da casa que tanto trabalhava para pagar. Teve de voltar para a cidade gelada, largou a cidade da garoa para poder cuidar da filha. Reconstruiu novamente sua vida, assim como já havia feito centenas de vezes, e mais uma vez, assumiu sua mais linda característica e valor, a humildade de ter força para se reerguer. E até hoje dá milhões de exemplos de resignação para a filha.

A filha só queria dizer do fundo do coração à sua mãe: PERDÃO. Perdão minha mãe por não ter sido a filha perfeita, que só tirava notas altas na escola, que só vinha com bons elogios das professoras e que nunca brigava com os meninos da sala de aula. Perdão pelas vezes que faltei com amor, compreensão e carinho. Perdão por ser turrona e não aceitar tão facilmente as coisas, por querer quebrar a cara ao não te ouvir. Perdão pelas guerras mundiais que tivemos, pelas coisas horrorosas que eu disse. Perdão por ter parado de te chamar de mãe. Perdão minha mãe pelo meu vício. Perdão por ainda não te escutar. Perdão... Perdão... Perdão... Milhões de vezes: Perdão

Agora mais velha, te compreendo, não todas as coisas, grande parte, seja pelas conversas que tivemos no carro, seja pelas revelações que você me fez com certa vergonha, mas que me fizeram processar melhor na minha cabeça.

Só queria que soubesse que nesse dia das mães em que te vi chorar, pude dizer em poucas palavras o quanto te amo, e como quero levar a vida com você. Sem reprises do passado infeliz de nossas ancestrais, e sem a possibilidade de melhora no futuro, quero mudar as coisas com você AGORA. Quebrar a corrente de maus costumes entre mães e filhas na família. Não somos iguais a ninguém. Somos FOGO e TERRA, o fogo, só se mantém, sob a terra. Nossa ligação é forte e indestrutível.

Quero te agradecer, primeiramente por ter me aceito como sua filha, ter me dado a luz, ter me ensinado as coisas mais belas da vida, ter me corrigido, ter dado as melhores oportunidades que uma mãe pode dar à uma filha.

Serei eternamente grata a você... Estarei sempre junto de ti, ao teu lado, dando apoio e me esforçando ao máximo para melhorar cada dia, espero que você queira contar comigo, SEMPRE, meu colo sempre estará disposto para te acolher, e mesmo eu sendo grande também preciso ter alguém para correr, quero que esse alguém seja você. Três páginas e meia, não são suficientes para contar tudo o que passamos como mãe e filha. Mas posso resumir tudo isso em três palavras...

EU TE AMO!




R.K.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

AUTO RETRATO - Je ne suis pas

La liste

Aller à um concert
Boire de La Vodka
Repeindre ma chambre en vert
Fumer beaoucop trop
Te faire mourir de rire
Et c’est La list de chose que jê veux faire avec toi!


Sabe aquela garota que sonhava excessivamente e não deixava de fazer planos sempre a dois? Perdeu sua vez. As roupas dele não serviam mais para sua grandeza, não estava gorda e SM sua alma já não comportava mais seu corpo. Não era ambição, nem seu ego que havia crescido e florescido e sim seu conhecimento de si mesma. Estranho não é?! Ela também achava estranhas todas as mudanças que estavam acontecendo nela e ao seu redor. Antes, pensava ela no casamento, na alegria e ele no feriado e no futebol.

Talvez por influencia da profissão seus desejos mudaram, não podia se conformar com a pequenez do que vivia. Seu cabelo longo, na altura dos ombros, cortou, mas ainda os achava compridos. Estava renascendo e não se contentaria com pouco, não que ele fosse pouco para ela, mas a idéia de se manter intacta não lhe agradava. Mudou seu perfume, cansou-se do cheiro das Rosas e foi para o Antúlio.

Ele calçou os sapatos dela, e colocou seu chalé em volta do pescoço para sentir o novo perfume, os sapatos não entraram, mas quando encolheu seus pés entrou sentiu e percebeu que os pés dela eram calejados, tanto quanto os dele.

Não era mais tempo de perceber que ela também sofria, enquanto isso ela se arrumava e tentava de alguma forma secar os curtos, longos cabelos.
As músicas já eram destoantes, ela na quarta feira de cinzas e ele no ano novo.

Mudanças para ambos os lados, mudanças diferentes, críticas, crises e distanciamento. ele por arrependimento e ela por redenção. Ela falava com os olhos e ele com palavras diretas que eram como farpas. Ela com óculos escuros da moda e ele com os olhos ultra lubrificados.


Je ne suis bonne qu’à ça?


Qual é a graça? Qual foi a graça?

Ela foi feliz mesmo que por pequenos instantes, ele foi feliz quando se entregou.

Pegou seu guarda-chuva transparente e como a chuva que caía, que por vezes parecia cair em sua cabeça, conseguiu ver claramente, era um dilúvio em sua mente. Problemas acumulados foram lavados e levados, as coisas pareciam estar se desintegrando, mas após a tempestade bem a bonança - foi o que pensou e disse – sua vida estava voltando ao normal, mas seu normal agora era diferente. Era uma nova mulher, cabelos negros como a noite para mostrar a mudança que sofrera. Agora mais tranqüila e sem algo que a prendesse, sentia-se assim.
Estava longe, mas muitos sempre lhe diziam que o longe não existia e que era uma desculpa, para manter-se alheia. Podia até ser.
Mas o que teve de certeza no fim foi que apesar das adversidades foi feliz, amou, conquistou. E o que pode se dizer, que aprendeu, em não se preocupar com o que lhe diziam, mas sim com o que o seu coração desgastado e nobre a mostrava.

Agora usa vermelho nos lábios. Voltou-se para seus desejos e assim inicia-se outra história. Uma página virada? Quem sabe? Apagou tudo o que vivera? Com certeza não. Estava em outro momento. Simples assim.


“Eu sei que um dia iremos nos encontrar
Não sei quando nem aonde,
O que sei é que não faz sentido
Deus ter nos feito assim, nos aproximado,
Ter surgido essa amizade, ter sentido seu carinho, e depois de tudo...
Mudar nosso rumo, cada um em seu caminho
Cada um em seu mundo
(...)
Em algum lugar eu sei que hei de te encontrar...”


sentido a vida nunca terá, sobra somente a vida...